أكتوبر 12, 2024

Sombra do Islã radical divide opositores

RadicalsSombra do Islã radical divide opositores / Entrevista / Haytham Manna, líder da Coordenação Nacional para Mudança Democrática na Síria

Info

As minorias e a classe média temem que essa seja uma revolução islâmica e o regime seja substituído por outro pior
QUEM É
Haytham Manna é porta-voz da Comissão Árabe de Direitos Humanos e participou dos movimentos que levaram às mudanças na Tunísia e no Egito. Nascido em Omalmayaden, sul da Síria, formou-se em Medicina na Universidade de Damasco e, posteriormente, refugiou-se na França, onde vive.
Adriana Carranca – Grupos radicais islâmicos são o principal obstáculo do movimento contra o regime de Bashar Assad, sentencia o muçulmano Haytham Manna. Refugiado na França, ele é um dos líderes da Coordenação Nacional para Mudança Democrática na Síria, que tenta unir e organizar a oposição, fragmentada pelo caráter sectário da sociedade e enfraquecida pelo temor de que o país caminhe para uma revolução islâmica como no Irã, em 1979.
Porta-voz da Comissão Árabe por Direitos Humanos, fundada em 1998, Manna participou dos movimentos que levaram à queda dos regime na Tunísia e Egito. Desde que as manifestações populares tiveram início na Síria, três parentes de Manna foram mortos – dois deles durante as manifestações e um na prisão. Outros 34 estão detidos.
Qual é a situação na Síria?
A primeira geração de manifestantes está na prisão. Desde março, cerca de 9 mil pessoas foram detidas, das quais mais de 3 mil são jovens e líderes experientes que tomaram a iniciativa da revolução e haviam se preparado para ela. Os que estão nas ruas hoje já são a segunda geração, menos organizada e experiente. Depois, a repressão do governo é muito grande. Em Deraa, no sul, onde os protestos começaram, há cerca de 700 tanques a postos e as ruas são patrulhadas 24 horas. Telefones estão grampeados, a internet falha. Não há espaço para mobilização. Banias e Jableh, na costa, e parte de Homs, estão na mesma situação. Mas há novos focos de oposição em cidades como Hama, no oeste, Deir ez Zor, no leste, e a região de Al-Jazira, nordeste da Síria.
Quem é a oposição síria?
Há três grupos. Os políticos tradicionais dos partidos banidos pelo regime, que seguiram clandestinamente e se uniram a intelectuais e ativistas no que chamamos de Coordenação Nacional para Mudança Democrática. O segundo é a geração que iniciou o levante. Alguns estiveram no Egito e levaram a revolução para a Síria. Muitos foram mortos – 1,6 mil desde março – e 10 mil feridos, além dos presos. O terceiro grupo é o que chamo de plateia. Não podemos dizer que são apolíticos. Eles são opositores do regime, mas não tomaram parte das manifestações. Estão como observadores.
Por que não se engajaram?
São minorias como cristãos, drusos e ismaelitas e têm medo da linguagem radical de alguns aproveitadores que deslegitimam o movimento, os salafitas (ou wahabitas), muçulmanos tradicionalistas. Eles têm canais de TVs na Síria financiados pela Arábia Saudita, como Wesal TV e Wafa TV. Seu discurso religioso provoca verdadeira fobia em muitos opositores.
Eles temem um regime islâmico?
Sim. As minorias e a classe média urbana e educada temem que essa seja uma revolução islâmica (como no Irã, em 1979) e o regime seja substituído por outro pior. Por isso, as grandes cidades têm uma participação muito pequena no movimento de oposição. Eles querem democracia, todos querem! Mas têm medo do que virá.
Como unir a oposição?
Primeiro, temos de dar uma definição ao movimento e deixar claro quem somos. Se for preciso fazer alianças com um grupo radical para ganhar adeptos, é melhor não fazer. Não podemos formar coalizão com nenhum grupo sectário ou religioso em detrimento de outro, pois isso seria muito perigoso. Temos de manter o caráter democrático do movimento. A maioria na Síria já aceitou que esse regime está fadado ao fim e precisamos de mudanças. Se pudermos dar garantias reais de que essa revolta não é de um ou outro, mas de vários grupos e pessoas que desejam uma transição pacífica e um regime não sectário, conseguiremos construir a democracia.
Como vocês se organizaram?
A maioria está na Síria e há sete ou oito expatriados como eu. Estamos atuando em três frentes: internet, satélite e trabalho de campo. Realizamos, por exemplo, “noites em claro” cinco vezes por semana. São encontros com grupos diferentes, em um endereço a cada dia (e os expatriados, via Skype), das 22h até o amanhecer, para despistar a polícia. Eu gasto até U$ 300 para falar por satélite quando a internet está fora do ar, mas a comunicação é essencial, pois temos muitos pontos fracos ainda. Falta coordenação com outros grupos opositores na Síria e há muitos surgindo entre estudantes e trabalhadores, mas estão fragmentados. Não temos presença em todas as cidades. Não temos grande penetração entre jovens, a maioria de nós tem mais de 35 anos.
Qual a principal dificuldade?
O maior problema é mesmo a repressão. Na semana passada, cinco participantes de um de nossos eventos foram presos – estavam comigo no Skype na noite anterior. Em Hama, tentei organizar a oposição com três médicos amigos. Eles foram presos há três dias. Em Omalmayaden, vilarejo de Deraa onde nasci, cerca de cem pessoas foram presas no domingo e tiveram computadores confiscados.
A Síria está preparada para a democracia?
Sim, claro! Mas é preciso agir com cuidado, pois estamos em uma encruzilhada, como coloquei no início. Temos a mesma possibilidade de mudar o país para melhor ou para pior. Vai depender de mantermos os radicais longe do movimento!

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17/07/2011